Einstein, Eddington e o Eclipse
Uma História Global do Eclipse Total de 1919
Os quatro viajantes tinham como missão fotografar o fundo de estrelas durante a totalidade do eclipse solar de 29 de Maio de 1919 para testar uma das previsões da teoria da Relatividade Geral de Einstein. Este eclipse era ideal pois era particularmente longo (~5mins), e o fundo de estrelas incluía as Híadas, um conjunto numeroso de estrelas brilhantes, na constelação de Touro. Ambas as equipas seguiram viagem para Lisboa, e depois até a à Madeira, seguindo depois caminhos distintos, uma rumo a Sobral, no Brasil e, a outra, rumo à ilha do Príncipe, na altura parte do Império Colonial Português.
Fevereiro, 1919
A pesada logística associada a estas expedições acarretou preparativos minuciosos que começaram em 1917, com a discussão dos locais de observação, e do trajecto das expedições, culminando no transporte de várias toneladas de equipamento em tempo de guerra. Os preparativos finais tiveram lugar no Observatório Real de Greenwich, de onde todos os materiais foram despachados para o porto de Liverpool.
8 de Março, 1919 - Liverpool
Saída dos expedicionários ingleses Arthur Stanley Eddington, Edwin Turner Cottingham, Charles Rundle Davidson e Andrew Claude de la Cherois Crommelin, de Liverpool, no vapor "Anselm".
12 de Março, 1919 - Lisboa
Os quatro expedicionários fizeram uma breve paragem em Lisboa. Esperava-os Frederico Thomaz Oom (1869-1930), com quem tinham trocado correspondência com vista à marcação das viagens e acomodação no Príncipe.
12 de Março, 1919 - Lisboa
Oom, que tinha alugado um carro para a ocasião, levou os Britânicos ao Observatório Astronómico de Lisboa, na Ajuda. Lá conheceram o director César Augusto Campos Rodrigues (1836-1919), "um velho charmoso que se parece tão pouco com um vice-almirante quanto se possa imaginar", visitaram o observatório e a Tapada da Ajuda, admirando as amendoeiras em flor.
O carro alugado permitiu ainda uma breve passagem pela zona de Belém. Ao contrário das impressões de 1912, em que Eddington referia que Lisboa não parecia uma capital europeia, mas antes um entreposto comercial, em jeito de grande mercado, agora Eddington notava apenas que Lisboa parecia muito pacífica, ainda que cheia de soldados.
14 de Março, 1919 - Funchal
Chegada à Madeira
A um passeio pela cidade, seguiu-se um almoço de despedida: Davidson e Crommelin regressariam nesse mesmo dia ao "Anselm" e rumariam ao Pará, enquanto Eddington e Cottingham permaneceriam na Madeira, à espera do navio Portugal, que os iria levar ao Príncipe.
23 de Março - Brasil, Pará
Davidson e Crommelin chegam à cidade do Pará, no estado do Pará. O Anselm dirigia-se à cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, onde ia carregar mercadorias. Como ainda era cedo para iniciar os preparativos para o Eclipse, aproveitaram a oportunidade e seguiram viagem com o Anselm, em busca de aventura. Isso permitiu-lhes descer o Amazonas e navegar o Rio Preto, antes de regressar à Cidade de Belém do Pará.
9 de Abril, 1919 - Cidade de Belém do Pará
Regressados à cidade de Belém do Pará, onde contactaram os clubes inglês e americano, assim como o cônsul americano e o director dos carros electricos, que lhes concedeu viagens gratuitas pela cidade e arredores nos carros da companhia. Aqui permaneceram até 24 de Abril, data em que viajaram para Camocim no navio "Fortaleza".
9 de Abril, 1919 -
Partida da Madeira, no Navio "Portugal" rumo à Ilha do Príncipe
Eddington e Cottingham sentiram-se muito bem na Madeira, com o seu clima moderado e uma paisagem bela e variada. Especialmente Eddington, que aproveitou para fazer longas caminhadas ora pelo campo ora pelas praias rochosas.
14 de Abril, 1919 - Praia
O "Portugal" faz uma última paragem na cidade da Praia, no Arquipélago de Cabo Verde. Inserir referencia aos telegrafistas.
23 de Abril, 1919 - Santo António
Chegada à Ilha do Príncipe
29 de Abril, 1919 - Camocim
Davidson e Crommelin chegam a Camocim e parte do dia seguinte rumo à Cidade do Sobral. Nos 80 km de comboio que os separavam do seu destino, tiveram o prazer de descobrir uma bela paisagem, muito diferente daquela que viriam a encontrar no local das observações astronómicas.
30 de Abril, 1919 - Sobral
Ao chegar ao seu destino, os astrónomos, Davidson e Crommelin tiveram um acolhimento caloroso e, previamente preparado por Henrique Morize, o Director do Observatório do Rio de Janeiro, que se tinha deslocado propositadamente ao Sobral para o efeito. Foram depois instalados na casa do Coronel Vicente Saboya, deputado por Sobral, em conjunto com os astrónomos da expedição americana, que lá se encontravam para realizar estudos de magnetismo terrestre e electricidade atmosférica.
16 de Maio, 1919 - Príncipe
Primeiro teste de equipamento na Sundy
O adiantado dos trabalhos e o isolamento da Sundy levou os expedicionários a regressarem à pequena cidade de Sto. António entre 6 e 13 de Maio, data em que voltaram à Sundy. Nesta última etapa finalizaram a instalação dos instrumentos e procederam à sua afinação e verificação. A 16 de Maio, e nas noites seguintes, tiraram as primeiras fotografias, que foram reveladas também durante a noite, um processo lento devido à temperatura elevada-
29 de Maio, 1919 - Sobral
Do outro lado do Atlântico, no Sobral, os astrónomos desfrutavam de uma excelente visibilidade, sem qualquer sinal de nuvens. Tanto os astrónomos como os espectadores presenciavam um magnífico espetáculo, muitos dos locais surpreendidos e abismados por um acontecimento que nunca tinham tido o privilégio de observar antes. Aqui foram tiradas chapas das mesmas estrelas, mas não foram reveladas no local. Estas chapas foram enviadas para Inglaterra e só foram reveladas muito posteriormente às chapas tiradas no Príncipe.
29 de Maio, 1919 - Príncipe
Eclipse Solar Total de 1919 Os dias que precederam o eclipse foram muito enevoados. Na manhã de 29 de maio houve uma forte trovoada das 10 às 11:30, uma ocorrência muito rara naquela época do ano. O sol aparece durante alguns minutos, mas as nuvens voltaram outra vez. Cerca de meia hora antes da totalidade, o sol apareceu de vez em quando; e quando era 1h55m poderíamos vê-lo através de uma núvem passageira. Segundo os nossos cálculos, o tempo da totalidade deveria ter lugar entre as 2h13 e 5s e as 2h 18m 7s, ou seja, o eclipse devia durar 5m e 2s, e foi isso mesmo que aconteceu. Passados alguns minutos após a totalidade, o sol apareceu num céu perfeitamente claro, mas isso não durou muito tempo. É provável que o desaparecimento das nuvens fosse devido ao próprio eclipse, uma vez que tínhamos notado que o céus só costumava clarear ao pôr do sol. Foi um espetáculo maravilhoso, e as fotografias revelaram depois uma bela proeminÊncia luminosa a uns 170km acima da superfície do sol. Mas nem tivemos tempo de a observar, estávamos simplesmente conscientes da estranha meia-luz da paisagem e do silêncio da natureza, quebrado pelas chamadas dos observadores, e o batimento do metrónomo a bater os 302 segundos de totalidade.
12 de Junho, 1919 - Santo António
Partida do Príncipe, a bordo do Paquete Zaire, rumo a Liverpool
18 de Julho, 1919 - Sobral
A equipa do Sobral permaneceu durante 7 semanas para obter vos fotos de comparação, agora sem a presença do Sol. A 18 de Julho começou a arrumar calmamente os seus instrumentos e a empacotá-los com vista à sua partida do Sobral, tendo chegado a Inglaterra várias semanas depois, a 25 de Agosto. Com a chegada de Crommelin e de Davidson terminaram as expedições do eclipse de 1919.
6 de Novembro, 1919 - Londres
Sir Joseph Thomson, O.M., P.R.S., abriu a sessão conjunta da Royal Astronomical Society e da Royal Society. Chamou então Sir Frank Dyson, Astrónomo Real, para fornecer à assembleia uma descrição completa dos resultados da expedição ao eclipse de 29 de Maio desse ano:
Frank Dyson aproximou-se, e numa longa declaração explicou como a ideia começou e como as expedições foram organizadas, e só depois apresentou um resumo dos resultados: "O efeito da curvatura gravitacional prevista para um raio de luz é afastar a estrela do Sol. Ao medir as posições das estrelas numa fotografia, para testar esse deslocamento, surgem dificuldades imediatas sobre a escala da fotografia. A determinação da escala depende em grande medida das estrelas exteriores na chapa, mas o efeito Einstein é mais notório nas estrelas mais próximas do Sol, pelo que é bem possível discriminar entre as duas causas que afectam a posição da estrela."
Após uma longa exposição onde o astrónomo real descreveu todos os pormenores dos resultados observados nas posições das estrelas detectados quer no Sobral como no Príncipe, foi a vez de Crommelin e de Eddington fazerem os seus testemunhos. Eddington, em particular, aproveitou para discutir a curvatura do espaço que estava na origem das deflexões verificadas e que permitiram comprovar o valor da deflexão previsto por Einstein, e não aquele que era previsto pela teoria de Newton.
De acordo com Eddington: "a interpretação mais simples do encurvamento dos raios é considera-lo um efeito do peso da luz. A gravidade ao actuar cria um momento numa direcção diferente da trajectória da luz e assim causa o seu encurvamento."